Ter um segundo filho
nunca foi para mim uma ideia clara ou que sempre tivesse tido em mente.
Fazendo agora com
distanciamento uma reflexão, pesou para isso o facto da primeira experiência
não ter sido a mais simpática.
Fui mãe de um menino
perfeito e fantástico, mas tive que superar a adversidade de ver um primeiro
filho a ser operado com 7 meses, com uma cirurgia com alguma complexidade e que
obrigou a um internamento hospital de 9 dias. Fora os milhentos exames a que
teve que ser submetido desde que nasceu, que são difíceis para um adulto,
quanto mais para um bebé de meses e uma mãe de primeira viagem.
Isto são coisas que se
registam no coração de mãe e que o marcam. Na hora de pensar em ter novamente
um bebe, fazem-nos oscilar, recuar e acima de tudo recear passar por tudo
novamente.
Passados 4 anos e
qualquer coisa, as coisas começam a resfriar e as memórias menos boas vão
voando. Por isso, foi com grande entusiasmo que decidimos que queríamos tentar
ter outro filho.
Foi uma segunda gravidez
muito desejada, planeada e também muito diferente. Costumo dizer que há
situações onde a ignorância é uma grande vantagem e confirmo isso mesmo em
relação à gravidez. Quando há desconhecimento, não há medos. O que me fez consideravelmente
uma grávida muito mais ansiosa e inquieta na segunda gravidez.
Pelo contrário, os
momentos do parto e de ter um recém-nascido nos braços são momentos vividos com
muito mais calma, serenidade e muito mais aproveitados na segunda experiência.
Reviver todas essas emoções é maravilhoso, com a sabedoria de mãe a acalmar
todo o novo universo de sentimentos que temos pela frente.
Há contudo uma
grande angústia que nunca tinha sentido: necessidade de repartir o meu tempo
com dois filhos. Até aqui o meu coração de mãe fazia o melhor pelo seu filho, o
seu único filho. Agora eram dois! E necessitei de aprender a duplicar as
atenções, os carinhos, o tempo, a paciência... Mas o que mais custou mesmo foi
perceber que nem sempre a escolha é fácil, que o melhor para um pode não
significar o melhor para o outro.
Há muitas situações
que temos que optar pelo benefício de um dos nossos filhos e isso foi o
sentimento mais difícil com que me deparei e que aprendi. Acho mesmo que ainda
estou nessa aprendizagem como mãe e que são muitas as situações em que fico
cheia de dúvidas sobre o que fazer.
Acho que fui uma
“segunda” mãe mais descontraída, mais solta, com mais confiança e segura do que
fazer. Isso é um grande benefício e tenho para mim que se reflecte na serenidade
do bebe. Cada vez mais acredito que a nossa insegurança e os nossos medos passam
para os nossos filhos e têm reflexos no seu comportamento desde muito cedo. Um
colo de mãe experiente faz milagres (menos na parte do banho, onde não consegui
superar a insegurança de dar banho a um recém-nascido, nem no segundo! Mas isso
são outros quinhentos…).
Uma outra coisa que
o segundo filho ensina é que não há fórmulas mágicas para nada. Nem teorias para
educar, ensinar a dormir, brincar, hábitos alimentares... Nada. Não há crianças
iguais e o que resultou com o primeiro pode não resultar com o segundo.
Aprendi que o que eu
achava ter sido fruto da nossa instrução e ensinamentos como pais, afinal não é
bem assim… Ou melhor, não é só isso que conta, que pode ter efeito num caso e
no outro, zero. Achava que os bebes vinham com ausência de temperamento e que
apenas adquiriam o que nós lhes transmitíamos, mas não podia estar mais
equivocada. Há coisas que estão lá com eles, desde sempre. Há personalidades,
há tendências, há gostos, há comportamentos.
É encantador ver as
diferenças dos nossos filhos, pensar que dois seres com a mesma origem e com a
mesma educação de base, reagem de forma tão distinta a situações semelhantes.
Talvez pense que a educação em si é igual, mas analisando bem o tema, reconheço
que o segundo filho terá sempre a influência de uma realidade que o primeiro
não teve – um irmão desde sempre. Tenho que admitir que isso por si só faz com
que o ambiente seja desigual e que a educação do segundo filho é altamente
condicionada por ter um mano mais velho. A partilha, a atenção em regime de não
exclusividade, as influências, gostos e brincadeiras do mano, são algumas das
circunstâncias com as quais teve sempre que conviver.
Tenho noção que nós
como pais vivemos todo o crescimento dos nossos filhos de forma muito
distinta. No primeiro estamos sempre impacientes com a chegada da próxima
etapa, dos dentes, da sopa, do andar, do falar, de mudar a cama de grades, da
entrada na escola.
No segundo filho só
quero que o relógio pare e que cada fase dele dure muito e muito mais. Não estive/estou
desejosa que tenha dentes, que corra, muito menos que fale correctamente
(porque adoro as palavras ditas à bebé) ou que mude de cama, porque tudo isso
significa que está a crescer com muita pressa e que mais brevemente do que
desejo já não é o meu bebé.
Na verdade é
mentira, os dois, por mais crescidos que sejam, serão para sempre os meus
bebés… Mas que dá saudades do tempo em que os tinha no meu colo, protegidos, só
para mim, lá isso dá. E isso é igual para o primeiro ou segundo filho.
E há mais uma coisa
mágica em ter dois filhos… Assistir à felicidade de um com o outro. Não há nada
nem ninguém que faça sorrir um bebé como o mano mais velho.
Melhor que ter um
filho, só mesmo dois (ou mais…)
GC
Sem comentários:
Enviar um comentário